Trump sinaliza encontro com Lula após breve contato na ONU em meio a tensões Brasil-EUA

Trump sinaliza encontro com Lula após breve contato na ONU em meio a tensões Brasil-EUA

Em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva tiveram uma rápida interação que abriu caminho para um possível encontro oficial na próxima semana, segundo relato do presidente americano. O gesto ocorre em um período de tensão sem precedentes recentes nas relações entre Brasil e Estados Unidos, classificados por analistas ouvidos pela BBC News Brasil como o pior desde 1964. Desde 1º de agosto, vigoram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas por Washington, enquanto declarações do governo americano têm elevado o tom contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). O tema central do eventual encontro seria a abertura de um canal direto de diálogo em meio a divergências comerciais e políticas.

Trump descreveu cordialidade no encontro relâmpago nos corredores da ONU e afirmou ter a intenção de se reunir com Lula nos próximos dias. O próprio presidente americano narrou a cena: “Nós o vimos, eu o vi. Ele me viu e nos abraçamos. E então eu disse: ‘Você acredita que vou falar em apenas dois minutos?’ Na verdade, combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns vinte segundos e pouco, pensando bem”, disse Trump. A assessoria do presidente brasileiro confirmou a interação e informou que ainda não há definição de data ou local para a reunião. Interlocutores ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o movimento pode servir para testar possibilidades de entendimento em temas sensíveis.

Sanções, tarifas e impacto nas relações Brasil-EUA

As medidas recentes de Washington ampliaram o atrito bilateral. Além da tarifa de 50%, o governo americano acionou a Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, um dos instrumentos mais severos da legislação dos EUA, e anunciou novas sanções na véspera da Assembleia. Foram incluídos na lista a advogada Viviane Barci de Moraes e a empresa Lex – Instituto de Estudos Jurídicos. Em outra frente, o Departamento de Estado revogou o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias. O quadro político também ganhou pressão após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos, ocasião em que Trump criticou o julgamento e impôs restrições de vistos a ministros do STF, enquanto Lula publicou artigo no The New York Times em defesa da democracia brasileira.

Especialistas ouvidos pela BBC apontam leituras distintas sobre o gesto. Para Dawisson Belém Lopes (UFMG), a menção pública de Trump a Lula, em tom menos crítico, sinaliza tentativa de abrir um novo padrão de interlocução, sem apagar o acúmulo de tensões. Oliver Stuenkel (FGV) avalia que a própria abertura de diálogo já é relevante para mapear espaço de compromissos, sobretudo no comércio e nas sanções. Lucas Leite (FAAP) destaca a condução personalista de Trump e considera mais provável a negociação bilateral sobre tarifas do que entendimentos sob regras multilaterais. Há também componente estratégico: reaproximar o Brasil para evitar maior aproximação com parceiros como a China.

Pauta provável e cálculo político do encontro

A leitura de Paulo Velasco (Uerj) é que o anúncio público do possível encontro transfere a Brasília parte do custo político de uma eventual não realização. Segundo ele, o Brasil chegaria com margem limitada de concessão nos temas mais sensíveis, como decisões judiciais e regulação de tecnologia. Na frente econômica, interlocutores veem mais espaço: ajustes tarifários pontuais poderiam ser avaliados, inclusive porque, ao atingir produtos brasileiros, sobretaxas podem pressionar preços de alimentos nos próprios Estados Unidos, abrindo brecha para revisão parcial. Se confirmada, a reunião tende a priorizar comércio, sanções e canais de comunicação institucional, testando a capacidade de ambos os governos de reduzir riscos e estabilizar a relação bilateral.

Outras fontes

G1