Análise | O teste ideológico do O Globo e o impacto na polarização política
Recentemente, o site O Globo lançou um teste interativo que promete identificar o posicionamento político do público — esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita ou direita. A ferramenta é descrita pelo próprio veículo como baseada em metodologia adaptada do Diagrama de Nolan, incluindo questões sobre políticas sociais e orientações econômicas, com consultoria do professor Emerson Cervi, da UFPR, e referência a questionários do Datafolha de 2013.
Apesar dessa apresentação técnica, minha análise indica que o teste não se limita a identificar tendências, mas atua como instrumento de narrativa, reforçando estereótipos e contribuindo para a polarização política, especialmente por veículos de grande alcance.
⏬ Resultados questionáveis e mensagens implícitas:
Usuários relataram inconsistências na classificação. Por exemplo, pessoas que expressaram valores tradicionalmente alinhados à direita foram categorizadas como “centro-esquerda”, sugerindo que posturas conservadoras seriam “menos empáticas” ou “socialmente desfavoráveis”.
Isso não se trata apenas de um erro de interpretação — indica como respostas aparentemente neutras podem transmitir mensagens ideológicas sutis, influenciando a percepção do público sobre moralidade e comportamento político.
⏬ O teste como instrumento de narrativa
O problema central, segundo minha análise, não é apenas identificar tendências políticas, mas rotular e julgar quem pensa diferente. Ao apresentar respostas de forma binária — “certo” ou “errado” —, o teste induz o leitor a associar moralidade à ideologia, ignorando que virtudes e falhas existem em todos os espectros políticos.
Embora apresentado como entretenimento interativo, o teste pode minar o diálogo e consolidar uma visão polarizada: de que há um lado que pensa corretamente e outro que erra sistematicamente. O efeito é previsível: mais divisão, mais desconfiança e menor disposição para ouvir o outro lado.
⏬ Ideologia, percepção social e polarização
A forma como o O Globo interpreta e apresenta os resultados simplifica excessivamente a complexidade do comportamento humano e da sociedade brasileira. Ao sugerir que posturas conservadoras são insensíveis ou que progressistas são virtuosos, o veículo transmite mensagens ideológicas implícitas.
Mais do que informar sobre tendências políticas, essa abordagem molda a percepção das pessoas sobre si mesmas e sobre os outros, criando barreiras ao diálogo e à compreensão. A política não pode ser resumida a respostas binárias — compreender suas nuances exige análise crítica das interpretações e narrativas que meios de comunicação constroem.
Mesmo com metodologia acadêmica, o teste do O Globo consolida polarização e reforça estereótipos, demonstrando como veículos de grande alcance podem, involuntariamente ou não, transformar ferramentas de entretenimento em instrumentos de influência ideológica.
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