 
			Opinião: O Discurso de Lula na ONU e a Estratégia de Trump
A 80ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2025, mostrou, mais uma vez, o contraste entre o discurso diplomático do Brasil e a estratégia calculada dos Estados Unidos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a sessão com uma fala que, embora bem recebida em alguns momentos, acabou se limitando ao genérico. Já Donald Trump usou da pragmática política americana para dar um passo além.
Lula: Uma Voz Relevante, Mas Repetitiva
Como é tradição, o presidente brasileiro abriu os trabalhos representando o Sul Global. O discurso teve pontos de destaque, especialmente ao:
Defender a democracia e a soberania, criticando sanções e intervenções unilaterais (sem citar nominalmente os EUA) e lembrando que a democracia brasileira “não é negociável”.
Ressaltar pautas sociais, como o combate à fome e à pobreza, definindo-as como a “única guerra que todos podem vencer”, além de defender maior regulação das plataformas digitais.
Apesar disso, o conteúdo soou repetitivo e sem novidades. Ao insistir em bandeiras amplas como multilateralismo, paz e sustentabilidade, Lula deixou de abordar pontos concretos sobre a economia brasileira ou os desafios internos urgentes. Isso reforça a percepção de que o discurso foi mais voltado ao protocolo da ONU do que à apresentação de uma agenda transformadora.
E aqui cabe minha crítica: Lula fala como se ainda fosse um líder moral acima de questionamentos, mas é um político com um histórico de corrupção que não pode ser ignorado. Sua volta ao poder se deu após uma manobra do Judiciário que “descondenou” seus processos, não após uma absolvição plena. Isso enfraquece o peso de suas palavras, já que o mundo sabe desse contexto.
Trump: O Elogio Como Estratégia
Na sequência, Donald Trump manteve seu estilo habitual. Reforçou o lema “America First”, atacou a própria ONU, mas surpreendeu ao elogiar Lula, chamando-o de “um cara legal” e mencionando uma “boa química” entre eles.
Esse elogio, claro, não foi gratuito. Foi um movimento estratégico com dois objetivos claros:
Pressionar pelo diálogo: em meio às tensões com tarifas e sanções, Trump criou espaço para uma reunião bilateral em condições favoráveis a ele, possivelmente em Washington.
Neutralizar críticas: ao elogiar Lula publicamente, reduziu o peso das críticas indiretas do brasileiro, reposicionando-se como líder pragmático que dita os rumos da negociação.
Entre a Retórica e o Jogo Real
O contraste foi evidente. Lula falou para o mundo, mas sem profundidade; Trump falou para seus interesses, mas conseguiu ampliar margem de negociação com um gesto simples.
Minha leitura é que Lula tenta manter o papel de porta-voz do Sul Global, mas sua condição política o enfraquece. Trump, por outro lado, mostra que entende que a diplomacia da ONU é apenas o palco — o jogo verdadeiro acontece a portas fechadas, onde vale menos o discurso e mais a capacidade de impor condições.

 
			 
			 
			 
			 
			 
			 
			 
			 
			 
			 
			